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Publicado: 26/02/2025

Setor de seguros: panorama, desafios e oportunidades para as cooperativas

Em janeiro, a presidência da República sancionou a Lei Complementar nº 213/2025, que dá o pontapé inicial para a criação das cooperativas de seguros. De acordo com a norma, as cooperativas vão poder atuar em qualquer ramo no mercado de seguros privados, a não ser que haja alguma vedação específica em textos futuros.

A nova legislação estabelece um marco regulatório para cooperativas de seguros e associações de proteção patrimonial, que passam a integrar o Sistema Nacional de Seguros Privados, sob supervisão da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

As cooperativas seguradoras e as mútuas (que são sociedades que prestam serviços de seguros de vida e não vida, regimes de segurança social complementar e serviços de pequeno valor de natureza social) são uma realidade em todo o mundo.

O Brasil, agora, vai integrar esse mapa. Diante disso, vamos discutir o cenário do setor de seguros no Brasil e no mundo, assim como as oportunidades de negócios que se abrem para o cooperativismo com a nova legislação. Boa leitura!

O mercado brasileiro de seguros

De janeiro a novembro de 2024, o setor de seguros cresceu 12,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com os dados da Susep. No acumulado do período, o mercado de seguros totalizou R$ 394 bilhões em receita total.

A arrecadação dos seguros de danos e pessoas, desconsiderando o VGBL, atingiu R$ 48,32 bilhões, refletindo um crescimento de 9,69% na comparação com o mesmo período de 2023, quando totalizou R$ 44,05 bilhões. Especificamente no segmento de seguros de danos, o aumento na arrecadação de prêmios foi de 6,8%.

Já o retorno à sociedade – ou seja, indenizações, resgates, benefícios e sorteios – fechou o ano em R$ 221 bilhões. O montante representa um crescimento de 6,8% em relação ao que foi registrado em 2023.

expectativa do setor é de que o crescimento continue em 2025. De acordo com a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), o segmento projeta crescer 10,1% no ano, consolidando uma participação de 6,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso significa que há oportunidades para fazer bons negócios no segmento.

Oportunidades no mercado de seguros

Dados levantados pela CNSeg no Google Trends mostram, por exemplo, um crescimento no interesse das pessoas por seguros de viagem. O interesse, inclusive, começou o ano de 2025 superando o período pré-pandemia, indicando o potencial desse mercado.

Além disso, existe uma ampliação da gama de produtos que atendam às demandas mais diversas da sociedade. É o caso dos seguros para celulares, que vem passando por um processo de crescimento devido à preocupação com furtos e roubos, além do aumento nos preços dos aparelhos.

Em um cenário de crescente volatilidade e incerteza nos mercados globais, as seguradoras podem encontrar uma oportunidade valiosa na oferta de soluções de gestão de riscos. Ao investir em consultoria especializada e análise de dados, elas podem não apenas ajudar seus clientes a enfrentarem esses desafios, mas também se destacar no mercado.

Além disso, as cooperativas poderão suprir lacunas do atual mercado segurador do país, que, devido à severidade de risco, deixa regiões desatendidas, como acontece com as cooperativas de crédito. “As cooperativas têm essa característica, de estar em locais onde muitas vezes outros modelos societários não estão”, explica Clara Maffia, gerente de relações institucionais do Sistema OCB.

O setor internacional de seguros

O mercado global de seguros tem apresentado mudanças significativas nos últimos anos. Em 2024, os prêmios globais de seguros registraram uma queda de 0,9% – a primeira desde 2017. Ela é atribuída ao aumento da competitividade no setor após anos de altas nas taxas devido a perdas por guerras, catástrofes naturais e pressões inflacionárias.

Já em um escopo mais amplo, entre 2020 e 2024, o mercado global de seguros, abrangendo os setores de vida e não-vida, aumentou 25%, alcançando mais de US$ 9 trilhões em prêmios em 2024.

Fatores como expansão econômica, crescimento da classe média, inovações tecnológicas e um ambiente de risco em constante evolução impulsionaram esse crescimento. Os gastos globais devem chegar a US$ 10 trilhões em 2028.

relatório Global Insurance Market Trends 2024, da OCDE, ressalta que o mercado de seguros ainda é muito desigual ao redor do mundo. Economias mais desenvolvidas têm um setor de seguros mais presente no PIB, enquanto a participação é menor em economias mais fracas.

Perspectivas globais

O levantamento KPMG 2024 CEO Outlook Seguros, que amealha opiniões de 120 CEOs de 11 países, revela que o setor de seguros vive um processo de aceleração da transformação digital. Eles acreditam que o avanço da digitalização e da conectividade é a principal prioridade operacional para o crescimento. Outros fatores relevantes são iniciativas ESG e propostas de valor para atrair e reter talentos.

Nesse sentido, 62% dos CEOs temem que a falta de talentos gere impactos negativos em seus negócios. Essa desconfiança ocorre em um momento em que 93% deles esperam ampliar a força de trabalho nos próximos três anos.

Há certo otimismo em relação à agenda ESG. Por exemplo: 67% dos participantes da pesquisa estão confiantes de que suas organizações vão alcançar a meta de neutralizar as emissões de carbono até 2030. Mas também há incertezas: 54% dizem que as expectativas relacionadas às práticas ESG mudam mais rápido do que conseguem acompanhar.

Em relação ao avanço da inteligência artificial generativa, os CEOs do setor de seguros foram mais de duas vezes mais propensos a afirmar que usam IA para acelerar a análise de dados do que a média de outros setores pesquisados. Por outro lado, 88% deles estão preocupados com desafios éticos no uso da tecnologia. Os principais benefícios de sua adoção pelo segmento são:

  • Análise de dados mais rápida: 21%
  • Detecção de fraudes e resposta a ataques cibernéticos: 18%
  • Maior eficiência e produtividade: 13%
  • Aumento da lucratividade: 12%
  • Desenvolvimento da força de trabalho para o futuro: 12%

As cooperativas de seguro no mundo

As cooperativas seguradoras e as mútuas já são relevantes no setor ao redor do planeta. A Federação Internacional de Cooperativas e Seguros Mútuos (ICMIF), que é a principal entidade que representa esse setor, reúne mais de 200 organizações de quase 80 países ao redor do mundo.

Somadas, elas alcançaram mais de US$ 236 bilhões em receita de prêmios em 2023. Já seus ativos totais estavam na casa dos US$ 1,7 trilhão. O cooperativismo atende por volta de 300 milhões de pessoas e gera mais de 230 mil empregos diretos no mercado securitário.

Esses dados, portanto, indicam que as cooperativas representam quase 30% do mercado de seguros em todo o mundo. Agora, com a abertura do setor no Brasil, o cooperativismo poderá se tornar um ator relevante no país.

Conclusão: os efeitos do cooperativismo no setor de seguros

“As cooperativas têm uma vocação natural para atuar com responsabilidade e inclusão. Este projeto reforça essa capacidade, permitindo que o cooperativismo contribua ainda mais para a proteção e o bem-estar da sociedade brasileira. É um avanço que reflete a maturidade do setor e a força do diálogo entre as entidades e o poder público”, explica Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.

O funcionamento das cooperativas de seguros ainda depende de regulamentação específica, que é responsabilidade do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). Ainda não há um prazo definido para que isso aconteça.

A nova lei deve ampliar em até 15% o mercado brasileiro de seguros, com especial impacto na proteção de automóveis. No momento, apenas 30% da frota nacional de veículos é segurada. Além disso, o ingresso das cooperativas nesse mercado abre uma série de novas possibilidades de intercooperação.


Fonte: NegóciosCoop

 

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